"Nem tempo.. nem lugar.. nem a sorte.. nem a morte podem dobrar os mais insignificantes dos meus desejos, o mínimo que seja."

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Hoje na aula de Tanatologia...

Especulações filosóficas sobre a morte.

Podemos brincar com a morte e dizer que ela é <<deixar de pecar repentinamente>>, ou que <<o medo da morte é o mais injustificado de todos os medos, porque não há risco de acidente de quem estar morto>>(Einstein).

Podemos afirmar para nós mesmos, como Epicuro, que a morte não nos deve preocupar. Enquanto existirmos, ela está ausente. E quando nos abranger, não nos pode incomodar, porque já não existiremos. Ou concordar com Sócrates, quando ele diz que <<se a morte não envolve sensações, então ela é como o sono, e é um maravilhoso presente>>.

Mas, contra toda a lógica dos nossos argumentos, a morte não deixará nunca de nos angustiar. Não podemos verdadeiramente ignorar esse <<tigre escondido, emboscado e pronto a matar os incautos>>, de que falam as escrituras budistas.

A morte revolta-nos, e é causa de <<loucura>>, diz-se na Bíblia, no Eclesiastes: <<Eis o pior mal, no meio de tudo o que se realiza debaixo do sol: que haja para todos o mesmo destino. Por isso, o espírito dos homens transborda de malícia, e a loucura habita o seu coração>>. Ela é o elemento central da crueldade da vida, ela destrói em absoluto o <<nosso único e precioso tesouro, o nosso eu>> (Morin). Assim, para muitos, ela é injustiça.

Tememos a morte, ainda que não seja exatamente pelas razões que Shakespeare enuncia no seu Hamlet: <<Quem suportaria tais fardos, gemendo e suando sob uma vida gasta, se não fosse o medo do que há depois da monte, o medo desse país desconhecido, de cujas regiões nenhum viajante regressou, a perturbar-lhe a vontade e a fazê-lo penar por estes campos, em vez de voar para outros que desconhecemos?>>

Podemos evitar pronunciar palavras a seu propósito, como diz Montaing. Podemos tratá-la como um acidente,<<revelando por essa via a nossa clara tendência para despojar a morte de todo o seu elemento necessário>>, como diz Freud. Ou podemos recorrer à religião, a Deus, minimizando por essa via os efeitos sobre nós: Quem crê em Deus não morre (S. João). Mas não podemos verdadeiramente esquecê-la.

Podemos argumentar , como Santo Agostinho, que a morte é um passaporte para uma vida melhor, junto de Deus, e que por isso não deveríamos chorar a morte dos que nos são queridos. Foi o que ele tentou fazer, ao recusar lágrimas públicas pela morte da sua mãe e do filho Adeodato. Mas não terá ele derramado lágrimas interiores? Não foi ele próprio a dizer que não <<podemos esquecer e ignorar a morte>>?

O medo e a angústia da morte é, de fato, uma questão existencial incontornável. Está na base de muitas das nossas interrogações sobre o sentido da vida. Ele associa-se à nossa inteligência, da nossa condição existencial. <<Ao nos dotar de memória , a natureza revelou-se uma verdade amarga e de outro modo inimaginável: a verdade sobre a imortalidade e a morte>> (Santayana).

A nossa memória superior, a nossa consciência, e a nossa capacidade de inteligentemente vermos a vida, e o significado do passado, do presente e do futuro, são também uma fonte de tragédia humana.

Muitas espécies animais podem ignorar a morte. Podem <<não ter consciência de si senão como ser sem fim>>, como diz Shopenhauer. Algumas, poucas, poderão intui-la e temê-la. Mas somos nós que temos dela uma apreensão profunda, com a consequente dor e medo, irremediavelmente angustiantes.

É isso que nos leva a filosofar, a imaginar, especular, refletir, pensar...a morte parece ser a mãe de todas as dúvidas e, assim, construtora de todas as certezas ou "certezas".

Prof. Erasmo

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